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Portugal Litoral

Dizem que Portugal é lindo, então decidi certificar isso eu mesmo. Não que eu precisasse ver para crer, mas precisava ver para sentir.

Portugal Litoral

Dizem que Portugal é lindo, então decidi certificar isso eu mesmo. Não que eu precisasse ver para crer, mas precisava ver para sentir.

30km, era o previsto, foram 32; aproximei-me bem quando planeei o percurso, afinal seria a segunda tentativa, não podia haver erros que me impedissem de chegar, que me pusessem novamente às voltas, perdido e sem saídas, como na primeira tentativa. Um bom plano era altamente relevante.

 

Neste percurso tive que abrir mão de estar a todo o tempo junto ao mar, não havia hipótese de ser, mas este fato não foi negativo, muito pelo contrário, foi uma variação que conferiu ao trajeto um prazer diferenciado. 

 

Nomeei o percurso de O Caminhos das Pedras e Flores, não que não os tenha encontrado nos outros caminhos, mas nesse estiveram mais presente. O início da primavera trouxe muito mais flores e consequentemente cores às trilhas. As pedra, fora as vulgares, tiveram representação na pedreira, nos trechos de asfalto e nas praias de rochas pelas quais passei saltitando de pedra em pedra, com alguma destreza, tenho que admitir. E à entrada de Setúbal passei ladeando uma fábrica de cimento, e hão de concordar comigo que cimento e pedra tem uma forte ligação. 

 

Mas não foram somente as flores e pedras que marcaram. Em certa altura, quando a trilha que eu seguia deixou de existir, tive que transpor uma cerca de arame farpado que delimitava uma propriedade privada destinada a criação de gado. E só descobri que era para a criação de gado quando a meio do caminho que ia pelo pasto para chegar do outro lado do cercado que margeava uma estradinha que eu objetivava, deparei-me com bois brancos e enormes que ao me verem levantaram-se em alerta. Os bichos eram enormes e encaravam-me com tenacidade. Estavam longe, é verdade, mas eu também estava longe de uma escapatória. Se corressem atrás de mim eu não teria chances. Mantive o sangue frio, não corri. Imaginei que se eu corresse poderia atiçá-los a virem atrás de mim. A verdade é que não entendo nada de bois, tão pouco de bois brancos e gigantes. Talvez não iriam correr atrás de mim, talvez fossem até amigos, mas pela cara feia não pareciam. Pensei em minha mochila vermelha, e foi a primeira e única vez que arrependi-me de  a ter comprado  vermelha. Pensei o quanto deve doer uma cabeçada de um monstro daqueles; não tinham chifres, era um ponto ao meu favor, mas certamente tinham a cabeça muito dura. Pensei em muitas coisas enquanto caminhava à passos largos para a cerca ao longe. Pensava, caminhava e olhava em redor procurando um ponto de fuga por perto para o caso de me atacarem. Por sorte não atacaram-me, eram bois do bem, da paz, branquinhos e até fofinhos. Claro que esta última percepção sobre aquele cingel só me foi possível do outro lado da cerca.

 

Atravessei o Parque Natural da Arrábida, conheci todas as praias do Portinho. Senti-me num amplexo da vida, entorpecido. Perscrutei-me. Reflexionei. Travei monólogos vigorosos sobre assuntos abstratos. Cantei alto às árvores e gritei ao mar. Estava ensandecido de felicidade gratuita, de espírito aurido, de alma enlevada.

 

Sesimbra

Pedras no Caminho

 

 

A intenção no dia 27 de dezembro de 2016, era de sair da Praia da Califórnia em Sesimbra e chegar à Setúbal, percorrendo uma distância aproximada de 22 km em até 8h, a ter que manter, para tanto, uma passada média abaixo de 22 min/km. A hora de partida foi às 7:40h, pouco antes do sol. Levei a fotográfica digital pequena para não perder tempo a tirar fotos e, principalmente, para diminuir a carga e consequentemente o peso. Seria o maior percurso entre os quatros feitos até então, eu não tinha tempo a perder, precisava ser rápido para conseguir completá-lo antes do anoitecer. Mas às vezes é preciso aceitar que o planeado descamba montanha abaixo e a desbunda é total. Ao fim de 4 horas de caminhada eu não havia percorrido nem um quarto do percurso idealizado apesar de já ter andado o equivalente à metade do previsto. O problema, o meu grande problema, é não seguir pelos caminhos das pessoas normais, se o fizesse não seria eu. Minha escolha é sempre pelas trilhas que não existem, e sendo assim, o que resta-me quase sempre, é não restar caminhos ou saídas. Então volto em várias voltas pelas trilhas que não fui, e tal como na ida, também perco-me na volta. E quando perco-me sempre ganho e para o que hoje ganhei não há preço.

 

Se eu fosse fazer um mix a fim de resumir a pequena aventura de hoje, poria no liquidificador: adrenalina, medo, sorte, emoção, surpresa, auto-superação, beleza à transbordar e liquidificaria tudo com a vida, a minha vida.

 

Para terminar o caminho perdido entre aspas, quando voltava para o ponto de onde partira, faltando 1km para chegar, ofereceu-me boleia um simpático homem acompanhado de três lindas garotas da Lituânia. Elas não falavam Português. Na situação em que eu estava não havia como recusar a carona. Aceitei, é claro. No caminho o homem revelou-me ser mago, um ilusionista, um jovem ilusionista pois não era homem velho. E eu estava o tempo todo a pensar que as lindas garotas lituanas eram de verdade. Pobre de mim ser assim tão facilmente iludido. 

 

 A começar bem o dia.

 

Sesimbra ficando para trás.

 

As coisas começando a complicarem-se. ↑↓

Complicado mas bonito de se ver.

 

Eu estava tal e qual uma osga na parede 

Foto de Nuno Nóbrega

 

Como cheguei até aqui eu não sei, mas cheguei. 

 

"No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho..."  Na verdade tinham muitas pedras no meio do caminho.

 

Encontrar uma corda amarrada assim, como na foto acima, dá-nos um duplo alívio. Primeiro porque nos vem a cabeça: "Alguém já passou por aqui, logo deve haver uma saída mais à frente". Em segundo lugar porque uma corda assim ajuda imenso. 

 

A olhar para trás, por onde passei. Sesimbra bem ao fundo.

 

A olhar para frente, por onde iria ter que passar. ↑↓

 

A olhar para baixo, o lugar onde iria parar se não conseguisse passar. 

 

O conjunto das últimas cinco fotos acima dispensam palavras. Estava mesmo bem junto ao mar, no limite. Na última foto (esta logo acima) eu estava em um ponto que não havia como seguir em frente, tive que voltar mais de 2km para tentar por outro caminho.

 

Sesimbra à ficar perto outra vez. 

 

Fantástica  a forma como essa pedra ficou posicionada. Hesitei alguns segundos antes de criar coragem de passar por baixo dela.

 

Parece uma piscina.

 

Gostaria de saber a história por trás dessas construções abandonadas nesses lugares invulgares.

 

Parecia uma cachoeira de pedras. Nesse percurso, uma vez ou outra escutava o som de pedras à rolarem encosta abaixo. Eram sempre pedras pequenas, bem menores que essas que aparecem na foto, mas que se atingissem-me, certamente fariam algum estrago.

 

Paraísos

 

Fico a pensar no trabalho que foi terem chegado até este local para construirem aquilo.

 

Esse foi mais um daqueles lugares em que chegas, olhas e diz: E agora, por onde passo?

 

Quando encontrei essa árvore estava perdido a dar voltas no meio do mato.

 

Olha Sesimbra logo ali! 

 

De volta ao começo. Fui e cheguei de onde saí. Sesimbra.