Fiquei 1 ano e 3 meses sem fazer caminhadas na costa portuguesa. O motivo de tanto tempo foi que, neste período, estivemos todos em confinamento obrigatório. Depois estive a trabalhar de carteiro e andava de 15 a 20 km por dia, obviamente que não tinha ânimo para ir caminhar nos dias de folga. E, para completar o quadro, tive duas entorses de tornozelo, uma muito grave no esquerdo e uma mais recente, menos grave, no direito. Ainda estava a recuperar-me desta última entorse quando (...)
Azóia é uma pequena povoação próxima ao Cabo da Roca. O Cabo da Roca era tudo que eu e o Rômulo Martins queríamos avistar quando chegávamos ao topo de cada uma das colinas entrecortadas que os 10 quilómetros finais do percurso reservou-nos. Avistando as colinas de longe, da Praia do Guincho, contamos umas cinco, mas depois de não sei quantas subirmos e descermos, parecia-nos que não acabariam nunca. O que não posso dizer do nosso suprimento de água, este sim acabou e nos (...)
Praia de São Rafael - Albufeira Não seria a inconveniência do adolescente sem fones de ouvido a ver filme no telemóvel com volume altíssimo, sentado no banco a minha frente dentro do autocarro, que iria estragar o meu dia. É óbvio que eu tinha planos de dormir durante a viagem até Portimão, afinal saíra do trabalho diretamente para a rodoviária em Sete Rios (Lisboa) para apanhar o autocarro de 1h da madrugada, portanto precisava descansar um pouco antes de caminhar um dia (...)
Descalçar os tênis e caminhar com os pés dentro d'água límpida pelos quase 5km da Meia Praia e a Praia do Vale da Lama, foi um alívio para os meus pés e enlevo para a minh'alma. Antes disso porém, para aí chegar, foram aproximadamente, desde a praia da Luz, 15km caminhados, entre praias, trilhas e falésias. Praia da Luz O dia estava perfeito, despontava sobre o vilarejo de Luz em Lagos os primeiros raios de luz do sol quando iniciei, na Praia da Luz, às seis horas da manhã, (...)
O mar calmo e a maré baixa revelam caminhos pelas rochas que do contrário não existiriam. Mas andar por sobre pedras exige um alto nível de concentração que na mínima falta, a consequência é, inevitavelmente, uma queda. Um trajeto que deveria ter sido fácil, tornou-se um dos mais difíceis até então. Foi um pequeno descuido sobre as rochas da Praia do Zavial, no km 12 aproximadamente, e no segundo seguinte estava eu a juntar do chão, de entre elas, as partes da minha (...)
A maioria das pessoas não percebem a razão das minhas caminhadas, “_ Você é doido!”, é o que dizem sempre. Compreendo perfeitamente o despercebimento, e da afirmação não discordo totalmente pois não acredito que eu seja doido, apenas e infelizmente meio-doido . Devo informar que ainda estou em fase de construção de um ser completamente doido, e que a cada mergulho que dou dentro de mim, volto um pouco mais. Aquando de uma dessas caminhadas eu não retornar para casa, é (...)
Há aplicativos de smartphones para quase tudo que se possa imaginar. Para quem, como eu, vem do século passado, de muito antes deles surgirem, chega a ser um pouco impressionante, ou melhor, assustador, ou melhor ainda, aviltante. Mas com algum custo conseguimos, a maioria, para o bem ou para o mal, adaptarmo-nos a eles e assim já não precisamos ser mais tão “smart” como éramos . Em minhas caminhadas utilizo a App Runkeeper (...)
De pedra ser. Da pedra ter o duro desejo de durar…. ( Donizete Galvão ) Ao longo de todos esses percursos que já fiz na Costa Portuguesa, sobretudo na Costa Vicentina, fui criando uma certa empatia pela rochas que encontrei no caminho, pois de uma forma ou de outra, partilhamos um mesmo desejo: o mar. E pude, durante o percurso número 11 na costa entre Aljezur e Carrapateira, realizado no dia 16 de outubro de 2018, refletir e elaborar uma proposição pseudocientífica (...)
Enquanto a minha garrafa de água, caída do bolso de minha bermuda, rolava encosta abaixo, eu apenas ouvia o som dos sucessivos choques dela (ainda cheia de água) contra o clivo. Naquele momento imaginei que poderia ser eu no lugar da garrafa, a tentar, desesperadamente e sem muito o que fazer, manter-me vivo. A cada percurso que faço vou perdendo o medo, ficando mais autoconfiante e, consequentemente, metendo-me cada vez mais em situações de tornar-me sedimento derivado da (...)
Meu corpo parecia não encaixar-se no espaço que ocupava, estava incapaz de acompanhar o ritmo que a manhã do dia 12 de junho de 2018 seguia em seu frenesi típico de uma terça-feira. A causa de tanta pânria era o cansaço, com isso, tão logo o autocarro pôs-se a caminho, de Almada à Vila Nova de Milfontes, adormeci e tudo a seguir, nesse dia e no posterior, tenho a sensação de que foi um sonho. Entre a foz do rio Mira e da Ribeira de Seixe há um paraíso, um santuário (...)